Beleza maculada
(por um poema de Hopkins)
Glória ao Criador pelas
coisas machucadas,
Pelas veias partidas nos
casais de ocasião,
Pela mancha rosa, toda
pontilhada
De pequeninos sulcos, chagas
em botão –
Pelo vago rubro vergão na
carne clara,
Pela unha que arranha a coxa
fugitiva –
Um peixe a debater-se sob
anáguas.
Pela pele rompida, logo
remendada,
E por toda ferida de amor,
Incendida e acariciada.
Todas as coisas em excesso,
vulgares, interditas
(Sangue doce, restos de
saliva,
Dobras nítidas do ventre
envelhecido),
Quem produziu isso tudo foi
Aquele
Cuja beleza é imutável:
Que a glória seja d’Ele!
Paulo Franchetti