BRIGA NO BECO
Encontrei meu marido às três
horas da tarde
com uma loura oxidada.
Tomavam guaraná e riam, os
desavergonhados.
Ataquei-os por trás como
nunca suspeitei conhecesse.
Voaram três dentes e gritei,
esmurrei-os e gritei,
Gritei meu urro, a torrente
de impropérios.
Ajuntou gente, escureceu o
sol,
a poeira adensou como cortina.
Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura,
Sem me reter, peixe-piranha,
bicho pior, fêmea-ofendida,
uivava.
Gritei, gritei, gritei, até a
cratera exaurir-se.
Quando não pude mais fiquei
rígida,
as mãos na garganta dele, nós
dois petrificados,
eu sem tocar o chão. Quando
abri os olhos,
as mulheres abriam alas, me
tocando, me pedindo graças.
Desde então faço milagres.
Adélia Prado (Bagagem, p.97)
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