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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Dúvidas Apócrifas de Marianne Moore (João Cabral)

Dúvidas apócrifas de Marianne Moore



Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?

Não haverá nesse pudor
de falar-me uma confissão,
uma indireta confissão,
pelo avesso,
e sempre impudor?

   A coisa de que se falar
   Até onde está pura ou impura?
   Ou sempre se impõe, mesmo
          Impuramente, a quem dela quer falar?

Como saber, se há tanta coisa
de que falar ou não falar?
E se o evitá-la, o não falar,
é forma de falar da coisa?


João Cabral de Melo Neto

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