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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Elegia de Verão (Manuel Bandeira)

ELEGIA DE VERÃO



O sol é grande. Ó coisas
Todas vãs, todas mudaves!
(Como esse “mudaves”
Que hoje é “mudáveis”
E já não rima com “aves”.)
O sol é grande. Zinem as cigarras
Em Laranjeiras.
Zinem as cigarras: zino, zino, zino...
Como se fossem as mesma
Que eu ouvi menino.
Ó verões de antigamente!
Quando o Largo do Boticário
Ainda poderia ser tombado.
Carambolas ácidas, quentes de mormaço;
Água morna das caixas-d’água vermelhas de ferrugem;
Saibro cintilante...
O sol é grande. Mas, ó cigarras que zinis,
Não sois as mesmas que eu ouvi menino.
Sois outras, não me interessais...
Dêem-me as cigarras que eu ouvi menino.


BANDEIRA, Manuel. Opus 10 (1952). In:___. Estrela da vida inteira. 19.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991. p.192.

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