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domingo, 22 de julho de 2012

Pretexto (Manoel de Barros)


PRETEXTO

      

O que eu gostaria de fazer é um livro sobre nada. Foi o que

escreveu Flaubert a uma amiga em 1852. Li nas Cartas exemplares

organizadas por Duda Machado. Ali se vê que o nada de Flaubert

não seria o nada existencial, o nada metafísico. Ele queria o livro

que não tem quase tema e se sustente só pelo estilo. Mas o nada de

meu livro é nada mesmo. É coisa nenhuma por escrito: um alarme

para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para

pedras, o parafuso de veludo, etc etc. O que eu queria era fazer

brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo.

Tudo que use o abandono por dentro e por fora.




Manoel de Barros  Livro sobre nada, p.7


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